neste momento
sem tempo.
fixo a tua foto,
estável, imóvel,, estática…
E pergunto-te,
“Quem sou eu?”.
Mas da quietude dos teus
lábios,
só um leve sorriso,
que ecoa a minha inquietação,
“Quem sou eu?”, “quem sou
eu?”, “quem sou eu?”…
“Células, veias, ossos, órgões?”,
“Pensamentos, desejos,
emoções?”,
“Alma, mente, cérebro?”.
Talvez na ilusão
do meu mundo
isso tudo
ainda seja o “eu”,
mas não a verdade absoluta
porque existe um observador
que contempla
esta coisa, estas coisas,
que penso ser o “eu”.
“Quem sou eu?”.
Do fundo do teu olhar
sossegado,
como um relâmpago sem luz e
ruído
ou uma espada feita
do espaço vazio,
jorra silêncio
que me faz suspender a memória
e ficar no agora.
E neste espaço vasto dos teus
olhos
só existe
Serenidade, plenitude,
silêncio, silêncio e silêncio…
E, subitamente, nada quero
saber,
porque nada há para saber.
Ser,
apenas ser o descanço,
do brilho que centila no teu
rosto,
das estrelas suspensas no
firmamento…
Ser, ser, ser sem ser…
Liberdade, só plenitude,
sem nenhum jogo de faz de
conta,
sem céu nem inferno,
sem sanssara ou nirvana,
sem passado ou futuro,
sem nascimento ou morte,
sem reencarnação,
sem mente…
E hoje, agora que escrevo,
agora que enxergo teu retrato,
“Ramana Maharshi”,
sei que ainda sou marioneta
do jogo da ilusão,
como reflexo num espelho
do brilho do sol
esquecido que ele, reflexo, é
o próprio sol.
E neste universo de dualidade,
de sujeito / objecto,
agradeço-te, Ramana Maharshi,
por tudo quanto nos doaste,
por neste momento intemporal
ajudares tantos “eus”
a diluírem-se
no oceano de bem-aventurança.