segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

E se não houvesse tempo?


E se não houvesse tempo?

E se não houvesse tempo,
nem passado, nem futuro,
cada momento
teria o doce sabor fresco
da renovação,
do renascimento,
de tudo o que é inevitavelmente novo…
Tão renovado
como o oceano
que contra o paredão
se desfaz em mil pedaços levados pelo vento…
Tão renovado,
como a criança e o seu sorriso…

E se não houvesse tempo,
cada tarefa, cada coisa,
teria o brilho de tudo o que é novo…
Cada ser, cada pessoa
seriam aquilo que seriam,
no presente momento,
sem julgamentos, condicionamentos,
das memórias do passado…

e se não houvesse tempo,
a cada momento,
simultaneamente a morte e o nascimento
seriam como néctar puro…
E os novos não seriam os novos,
e os velhos não seriam os velhos…
Tudo simplesmente seria aquilo que é…

E se não houvesse tempo,
eu seria
tão livre como o vagabundo
que nas ruas da cidade
canta descontraído…
Eu seria mais livre
que o eremita
que abraça a solidão
na caverna da montanha…
E então
saberia o que é o infinito
e saberia o que é não existir nada para saber…

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Deixa-me ser


Meu Deus,
deixa-me ser apenas…
Sem dizer as palavras:
“Meu Deus.”.
onde já não exista nem eu, nem tu, nem palavras…
Mas só a comunhão
do que ainda não conheço,
do que nunca conhecerei,
porque nesse momento
e silêncio e revelação,
já não haverá nenhum eu
para experienciar
a verdade absoluta.
E então talvez
o mundo inteiro
se dissolva no infinito,
como o pensamento
que se desvanece no vazio…
Ou talvez não…

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ramana Maharshi


neste momento
sem tempo.
fixo a tua foto,
estável, imóvel,, estática…
E pergunto-te,
“Quem sou eu?”.
Mas da quietude dos teus lábios,
só um leve sorriso,
que ecoa a minha inquietação,
“Quem sou eu?”, “quem sou eu?”, “quem sou eu?”…
“Células, veias, ossos, órgões?”,
“Pensamentos, desejos, emoções?”,
“Alma, mente, cérebro?”.
Talvez na ilusão
do meu mundo
isso tudo
ainda seja o “eu”,
mas não a verdade absoluta
porque  existe um observador
que contempla
esta coisa, estas coisas,
que penso ser o “eu”.
“Quem sou eu?”.
Do fundo do teu olhar sossegado,
como um relâmpago sem luz e ruído
ou uma espada feita
do espaço vazio,
jorra silêncio
que me faz suspender a memória
e ficar no agora.
E neste espaço vasto dos teus olhos
só existe
Serenidade, plenitude, silêncio, silêncio e silêncio…
E, subitamente, nada quero saber,
porque nada há para saber.
Ser,
apenas ser o descanço,
do brilho que centila no teu rosto,
das estrelas suspensas no firmamento…
Ser, ser, ser sem ser…
Liberdade, só plenitude,
sem nenhum jogo de faz de conta,
sem céu nem inferno,
sem sanssara ou nirvana,
sem passado ou futuro,
sem nascimento ou morte,
sem reencarnação,
sem mente…
E hoje, agora que escrevo,
agora que enxergo teu retrato, “Ramana Maharshi”,
sei que ainda sou marioneta
do jogo da ilusão,
como reflexo num espelho
do brilho do sol
esquecido que ele, reflexo, é o próprio sol.
E neste universo de dualidade,
de sujeito / objecto,
agradeço-te, Ramana Maharshi,
por tudo quanto nos doaste,
por neste momento intemporal
ajudares tantos “eus”
a diluírem-se
no oceano de bem-aventurança.